Criações Clínico-Políticas memórias clandestinas e reparação simbólica

Criações Clínico-Políticas memórias clandestinas e reparação simbólica

Cristiana Corsini –Psicanalista integrante do Instituto Nebulosa Marginal. Graduada em Psicologia pela Universidade Católica de Petrópolis. Doutora e Mestre em Memória Social pela UNIRIO. Especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial pela ENSP/FIOCRUZ e IPUB/UFRJ. Vem construindo uma trajetória clínica em serviços públicos de saúde mental e atenção psicossocial, conectando a clínica com criações coletivas e produções artísticas no território. Como integrante de equipe jurídico-psicossocial, participou da implementação do Centro de Referência em Direitos Humanos na região serrana, com sede no CDDH-Petrópolis, com especial ênfase nos eixos Educação e Cultura em DH e direito à Memória, Verdade, Justiça e Reparação Simbólica. Integrante do Coletivo Cultural Inês Etienne – Por Memória Política e Direitos Humanos, em Petrópolis, certificado em 2025 como Ponto de Cultura pelo Mine.

Orcid: https://orcid.org/0000-0002-7603-9388

Sinopse: Com inegável compromisso ético na pesquisa sobre o tema da reparação psíquica/psicológica/ psicossocial sempre em relação de imanência com os Direitos Humanos, a autora reafirma a indissociabilidade da chamada Clínica Política, em posição crítica a uma abordagem clínica que se pretende isenta da dimensão política. Recorrendo a um acontecimento que marcou a história da psicanálise no Brasil, evidencia as tentativas de ocultação desta relação indissociável por instituições mergulhadas na lógica do silenciamento e comprometidas com práticas colaborativas com o regime ditatorial. Tendo em conta as contribuições da Memória Social e Política, da História como campos de conhecimentos que atravessam as práticas clínicas, a autora aporta entendimento aos processos de reparação no estudo comparativo das experiências na Argentina e Brasil, sob a ótica das medidas da Justiça de Transição. Desde as diferenças repressivas e de resistência, dos efeitos subjetivos produzidos sob o terror de Estado, suas modulações ao longo do período em que o neoliberalismo se impôs, às experiências mais recentes das últimas décadas. Ou seja, a clínica como dispositivo político de uma realidade latino-americana que resiste a retrocessos, que contribui para ressignificar situações traumáticas e inovar lutas por direitos humanos. Neste processo pós-ditaduras, cada país em seu momento e de acordo com as possibilidades, Corsini examina cuidadosamente a implantação de políticas públicas de reparação simbólica, marcando diferenças entre elas. E afirma serem ambas experiências portadoras do potente operador clínico político, o testemunho que, fazendo parte de estratégias clínicas de atenção à sobreviventes do terror de Estado, tornou-se um instrumento de construção de Memória Política na Argentina na cena da Justiça Penal; no Brasil revelou-se publicamente nas Comissões da Verdade com a contribuição das Clínicas do Testemunho. Aponta, ademais, as alternâncias de poder nos países latino-americanos marcados por momentos de fortalecimento e de trágicos retrocessos. Recorrendo à categoria de danos transgeracionais investiga as conexões sociopolíticas da permanência do trauma na crescente violência atual no corpo social, acenando com um alerta de possíveis mudanças no cenário distópico em que hoje vivemos. O primoroso trabalho de investigação aqui apresentado vem contribuir substancialmente para a construção de políticas públicas de atenção clínica a pessoas afetadas pelo terror e violência de Estado no passado ditatorial e no presente. Políticas públicas que, ainda pendentes em nosso país, marcado por traumas e catástrofes ao longo de sua história, se fazem urgentes.

SUMÁRIO
Prefácio ………………………………………………………………………. 11
Introdução ………………………………………………………………….. 17
1. Legados Clínicos-Políticos ………………………………………… 27
Psicanálise e Instituições ………………………………………………. 28
Insurgências clínicas ……………………………………………………. 33
Movimento dos trabalhadores da saúde mental ……………….. 39
A Luta Antimanicomial e a Reforma Psiquiátrica Brasileira .. 43
Memórias e dobras do Campo Psi ………………………………….. 49
Dispositivos clínico-políticos na Argentina ……………………… 50
Clínica e resistência no Brasil ……………………………………….. 56
Memórias incômodas …………………………………………………… 59
Epistemologias do trauma coletivo ………………………………… 64
Os traumas de guerra ……………………………………………………. 67
Era de catástrofes …………………………………………………………. 69
Efeitos do trauma político …………………………………………….. 72
O Brasil na rede clínico-política do Cone Sul ………………….. 80
2. Cenários da história recente no Brasil e Argentina ……… 86
O Estado Terrorista ……………………………………………………….. 94
Mecanismos institucionais da repressão ………………………….. 96
Os Centros de Extermínio Argentinos ……………………………… 96
Prisões e centros clandestinos no Brasil …………………………….. 100
Memórias Intergeracionais …………………………………………… 102
Sequestros e apropriações revelados ……………………………….. 107
O genocídio na Argentina …………………………………………… 112
3. As políticas de reparação simbólica …………………………… 114
Os Testemunhos da Justiça na Argentina ………………………. 118
Juízos por crimes de lesa-humanidade: ex-preso-desaparecido ….. 119
Centro de Assistência às Vítimas de Violações de lesa-humanidade 122
O traumático entre ternura e crueldade ……………………………. 127                                                                                                                        O Projeto Clínicas do Testemunho no Brasil …………………. 130
Clínicas do Testemunho (II edição) ……………………………… 134
A práxis clínico-política das equipes conveniadas …………….. 138
Clínicas do Testemunho – CT ISER-RJ ……………………….. 138
Clínicas do Testemunho – CT ISER-SP Nas Margens …….. 143
Clínicas do Testemunho – APPOA-RS e APPOA-SC ……….. 146
Capacitação profissional em rede – os CERPs …………………. 148
4. Testemunhos Clínico-Políticos: Brasil e Argentina …….. 153
Os impasses contemporâneos dos direitos humanos …………. 157
Dobras do tempo e da memória …………………………………… 161
Dispositivos clínico-políticos na história recente (Brasil e Argentina). 162
Clínica da imanência (o IBRAPSI no Brasil) ………………….. 162
Articulações clínico-políticas no Brasil …………………………. 164
Novos rumos do Campo Psi ………………………………………… 165
Institucionalidade das políticas de reparação e memória …… 167
Memória do trauma político ……………………………………….. 168
Entre o exílio e a clandestinidade …………………………………. 169
A importância do GTNM RJ para a memória histórica ……. 172
A recepção política da reparação ………………………………….. 173
A recepção social por reparação …………………………………….. 175
5. Entrevista com Fabiana Rousseaux …………………………… 177
Epílogo ……………………………………………………………………… 184
Referências ………………………………………………………………… 193
Posfácio ……………………………………………………………………… 205